segunda-feira, abril 25, 2005

O referendo de Braga e o nacional-benfiquismo

Se hoje, quando faltam cinco jornadas para acabar o campeonato e sabendo que o Sporting de Braga é claramente um dos favoritos, se fizesse um referendo em Braga sobre quem gostariam os Bracarenses que fosse o vencedor do Campeonato atrevo-me a vaticinar que o eleito não seria o Sporting de Braga, mas sim um dos Grandes de Lisboa!

Ora bem, se o meu palpite está certo, estamos perante uma situação caricata admissível nos Países do Terceiro Mundo ou nas antigas “democracias populares” do leste Europeu, mas impróprio do País civilizado que pretendemos ser.
A nossa vizinha Espanha que sofria do mesmo mal durante a ditadura Franquista, retomada a normalidade Constitucional tratou-se e está curada. Os Galegos, por exemplo, que antes torciam pelo Real Madrid ou pelo Barcelona têm hoje orgulho nos seus Clubes, um dos quais como se sabe já conseguiu sagrar-se campeão de Espanha (o Corunha).
Entre nós o que dá que pensar é que trinta anos depois de instituída a liberdade de associação e de pensamento a situação mental do País esteja no mesmo estado. E olhem que não me estou a referir exclusivamente ao comum dos cidadãos, mas especialmente às chamadas elites. O tal referendo imaginário se realizado apenas entre as camadas ditas “esclarecidas” daria resultados ainda mais comprometedores. E por todo o País!
Claro que isto explica a incapacidade da nossa sociedade civil de evoluir e de se tornar adulta e as consequências estão à vista de todos. Se ainda não doem, vão doer.
No que respeita ao Futebol que é aqui o que nos interessa, se formos sérios concluímos de imediato o seguinte:

1. A Super Liga é financeiramente inviável uma vez que a esmagadora maioria dos adeptos apoia apenas 3 dos 18 Clubes participantes;
2. A Super Liga tenderá a ocupar uma faixa cada vez mais reduzida de território nacional, na orla litoral junto às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e, pelo que se viu no recente Estoril-Benfica, jogado no Algarve, o Clube mais ao sul continuará a ser o Belenenses ou o Vitória de Setúbal! O interior do País continuará a desertificar-se ainda que servido por melhores vias de comunicação (!?)
3. A Região Autónoma da Madeira revela neste contexto sinais de algum progresso. Logo que se apresente com um único Clube poderá discutir o Título. As Autonomias têm-se revelado uma boa terapia para a auto estima das populações.

Questiona-se assim a construção de Estádios por esse País fora quando os adeptos só se interessam pelos três grandes. O Orçamento de Estado não deveria servir para satisfazer o luxo do chamado “2º Clube” quando existem decerto outras prioridades (Educação, Saúde, etc.).

E a pergunta incómoda permanece: Leiria, Braga, Aveiro, etc., se já têm Estádio e equipas competitivas, o que é que vos falta para abraçarem de alma e coração o Clube da vossa terra?
Hoje fico-me por aqui.

JSM

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