quarta-feira, junho 15, 2005

Artur José Pereira

“Estrela” antes do tempo

Nascido em Belém (Lisboa), em 1889, Artur José Pereira foi unanimemente considerado o melhor jogador de futebol em Portugal até aos anos 30, pelo menos, sendo uma das primeiras grandes "estrelas" nos relvados nacionais. "A. J. Pereira", como era conhecido, começou a jogar futebol para os lados das Salésias, em Belém – o grande viveiro de jogadores portugueses no início do século.
Na primeira década do século XX, os jornais costumavam dividir as equipas existentes em dois tipos: "grupos fortes" e "grupos fracos". Em 1903, "A. J. Pereira" alinhava como médio-centro no Sport União Belenense ("grupo fraco"), mantendo-se nessa equipa até 1905. Nesses dois anos, muito por mérito do jovem jogador, a formação belenense passou a ser considerada "grupo forte". Depois disso, a qualidade demonstrada por "A. J. Pereira" levou-o a ingressar no Grupo "Cruz Negra", onde se manteve entre 1905 e 1908.
Em 1908, passou para o Sport Lisboa, actuando habitualmente a médio-esquerdo, embora desempenhasse também o lugar de médio-centro nas ocasiões em que Cosme Damião não podia jogar. Nesse mesmo ano, o Sport Lisboa mudou-se de armas e bagagens de Belém para Benfica, como resultado da fusão com o Sport Benfica, "A. J. Pereira", embora triste por deixar de representar a sua terra, acompanhou o Sport Lisboa para Benfica e sagrou-se campeão regional de Lisboa em 1910, 1912, 1913 e 1914, alinhando a médio-esquerdo ou médio-centro e assumindo-se como um dos principais esteios da equipa benfiquista. Já nesta altura, o jogador era conhecido pelo seu feitio irascível, fazendo da competitividade uma das suas grandes armas. Perder não era para "A, J, Pereira", que dava sempre tudo em prol da equipa, em todos os jogos. Durante a época de 1913/14, apesar de alcançar o título regional, " A J. Pereira" desentendeu-se com alguns directores do Benfica e aceitou o convite do Sporting, pelo qual se sagrou campeão de Lisboa em 1915. Nesta altura, a presença do "craque" desequilibrava mesmo... Diz-se que no Sporting, "A.J. Pereira" recebia dinheiro para jogar e que tinha prioridade no uso da única banheira de água quente existente no Lumiar.
Os "leões" voltariam a ser campeões de Lisboa em 1918/19, última época em que "A.J. Pereira" defendeu as cores do clube, dado que pôde finalmente concretizar o grande sonho da sua vida ao fundar um "clube forte" no seu bairro de sempre: o Clube de Futebol "Os Belenenses". Em 1919, Belém voltava a ter um clube influente e o seu principal "ídolo" regressava a casa, acompanhado de excelentes jogadores nascidos na zona e que estavam espalhados pelos melhores clubes da capital. Juntos chegariam, logo no ano seguinte, à final (perdida) do Campeonato Regional de Lisboa, frente ao Benfica.
Aos 33 anos, o "capitão geral" do Belenenses "AJ. Pereira" despediu-se do futebol, enquanto praticante, a 26 de Março de 1922, no dia em que o "seu" Belenenses perdeu novamente a final do Campeonato de Lisboa, desta vez para o Sporting. "A. J. Pereira" foi o "capitão azul".
Durante a sua extensa carreira foi várias vezes seleccionado para a equipa representativa de Lisboa (alinhou nos oito primeiros encontros contra o Porto, com excepção do 5º), fazendo também parte da equipa da Associação de Futebol de Lisboa que em 1913 se deslocou ao Brasil. Ao serviço do SL Benfica e do Sporting CP fez diversas digressões por Espanha, reforçando também, em certas ocasiões, o FC Porto nas suas saídas ao estrangeiro ou quando recebia ilustres equipas europeias, como sucedeu com os franceses do Mêdoc.
A vida de "A. J. Pereira" continuaria ligada à modalidade como treinador do Belenenses, durante muitos anos, transmitindo aos seus jogadores a competitividade e espírito de sacrifício que o haviam caracterizado como atleta, contribuindo decisivamente para vários triunfos importantes do clube, como foi o caso do Campeonato de Lisboa de 1926 ou os Campeonatos de Portugal de 1927 e 1929. Nesta função, "A J. Pereira" pôde ainda orgulhar-se de ter sido o mestre de grandes nomes do futebol português como "Pepe", Augusto Silva e César de Matos. Faria dupla técnica com Cândido de Oliveira, em finais dos anos 30, no Belenenses e na selecção nacional. "A.J. Pereira" foi ainda árbitro competente e respeitado, merecendo a distinção de Sócio de Mérito da Associação de Futebol de Lisboa. Viria a falecer em 1943, três anos antes do "seu" Belenenses se sagrar campeão nacional. Tinha então 53 anos.

In “A Paixão do Povo” – HISTÓRIA DO FUTEBOL EM PORTUGAL

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