sexta-feira, maio 06, 2016

Leicester

Uma das coisas que mais me espantaram nestes últimos tempos foi a grande afición que se estabeleceu em Portugal a favor do Leicester! Toda a gente queria que o Leicester fosse campeão em Inglaterra! Para o comum dos portugueses isso seria mais do que uma vitória, era David a vencer de novo Golias!

Freud se ainda estivesse entre nós retiraria daqui importantes conclusões para os seus estudos psiquiátricos. O quadro clínico parece claro: - os portugueses, que na sua esmagadora maioria são adeptos dos grandes (Benfica, Sporting e Porto), não sobrando adeptos para os outros clubes, aproveitaram a brilhante carreira do Leicester para exorcizar os seus fantasmas! Transferem assim para Inglaterra aquilo que gostariam que acontecesse cá! Mas a doença é mais grave: - queriam que acontecesse cá apesar deles próprios tudo fazerem para que nunca aconteça!
Desde logo porque preferem o conforto espiritual de uma vitória mais que certa ao fim-de-semana. E depois porque não acreditam que um clube pequeno possa ser campeão em Portugal. Porque é que não acreditam?! Aí voltamos ao Freud. É um círculo vicioso.  

Mas não nos iludamos. Em Inglaterra o que aconteceu com o Leicester não foi nenhum milagre. Um clube, seja de que tamanho for, desde que consiga reunir um conjunto de competências desportivas superiores à concorrência, pode ser campeão. Basta verificar o histórico dos campeões ingleses. Estão lá emblemas que hoje militam em divisões inferiores mas que em qualquer altura podem reaparecer. É claro que é mais fácil que um Manchester ou um Chelsea reúnam mais vezes as tais competências. Há uma certeza e daí os estádios estarem sempre cheios: - as coisas decidem-se no campo, sem interferências estranhas.

Tem tudo a ver com a educação, com o facto de os ingleses não gostarem de ganhar de qualquer maneira, não gostarem de batota, tem a ver com a independência dos dirigentes federativos em relação ao poder político, em relação aos clubes, dos árbitros em relação a tudo o que os rodeia, dos jornalistas em relação ao poder económico, e tem a ver com uma distribuição equitativa dos dinheiros do futebol.

Em suma, tem a ver com tudo aquilo que nós não temos, nem queremos ter.


Saudações azuis

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